Toda empresa convive com dois mundos de risco: o que acontece dentro de casa e o que acontece fora dela. Dentro, estão os riscos operacionais, ambientais, financeiros e de conformidade que precisam ser mapeados, avaliados e controlados por um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), instrumento que, nas empresas mais maduras, já se tornou um sistema corporativo de gestão integrada de riscos.
Fora, estão os riscos trazidos pelos terceiros: fornecedores, prestadores e parceiros monitorados pelos programas de Third-Party Risk Management (TPRM).
Durante muito tempo, esses dois sistemas foram tratados de forma isolada, um nas mãos da equipe técnica e o outro sob responsabilidade do compliance ou do jurídico, porém o ambiente corporativo mudou.
Segundo a Gartner, cerca de 40% dos líderes de compliance afirmam que entre 11% e 40% de seus terceiros representam alto risco, um dado que mostra que as fronteiras entre o interno e o externo deixaram de existir.
A cadeia de risco é contínua e o compliance moderno precisa enxergá-la como tal.
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O novo papel do PGR
O PGR deixou de ser apenas uma exigência regulatória e passou a representar um sistema de governança de riscos corporativos.
Ele abrange todas as etapas do ciclo de risco como identificação, avaliação, controle e monitoramento, além de permitir que a organização mapeie vulnerabilidades tanto em processos internos quanto na relação com stakeholders externos.
Empresas mais maduras conectam o PGR à governança ambiental, segurança da informação, gestão de continuidade de negócios e às metas de ESG.
Um vazamento de dados, uma falha em controle de estoque crítico ou uma interrupção na cadeia de suprimentos não são apenas incidentes operacionais — são eventos de risco que afetam reputação, compliance e desempenho financeiro.
A Deloitte observa que a integração entre gestão de riscos e governança corporativa está diretamente associada a desempenho financeiro superior à média de mercado. Em outras palavras, o PGR, quando bem gerido, se transforma em um ativo estratégico.
E o que o TPRM tem a ver com isso?
O Third-Party Risk Management é o braço externo dessa governança. Ele garante que a organização tenha visibilidade e controle sobre os riscos trazidos por terceiros, fornecedores, distribuidores, transportadores, parceiros de tecnologia e todos os agentes que impactam o negócio.
A PwC resume bem a lógica quando afirma que a gestão de terceiros não é uma questão de custo, mas de confiança. O fornecedor que não cumpre normas trabalhistas, ambientais ou de integridade compromete não apenas contratos, mas a reputação de toda a cadeia.
Por isso, programas de TPRM evoluíram para incluir due diligence aprofundada, monitoramento contínuo e integração de dados de compliance, ESG e cibersegurança.
Ferramentas como background check, validação de identidade (KYE – Know Your Employee) e verificação de PEPs (Pessoas Politicamente Expostas) se tornaram etapas-chave de onboarding.
E esse mesmo olhar, que antes se limitava aos fornecedores, agora precisa alcançar todas as áreas e agentes que influenciam o desempenho corporativo, inclusive parceiros que atuam dentro de unidades industriais, logísticas ou administrativas.
Leia também: Como evoluir da planilha para um modelo de TPRM automatizado
Quando o PGR e o TPRM se encontram
Imagine um fornecedor responsável pela calibração de equipamentos críticos ou pela manutenção de sistemas industriais. Ele atua em um ambiente de alto impacto operacional (controlado pelo PGR), mas é contratado e monitorado sob critérios de integridade e conformidade (via TPRM).
Se esse fornecedor não estiver devidamente qualificado, regularizado e monitorado, o risco não é apenas dele, mas sim da empresa inteira. É nesse ponto que o compliance regulatório se conecta à gestão de terceiros, quando a integridade das operações internas depende da conformidade dos agentes externos.
De acordo com a KPMG, organizações maduras constroem um ecossistema contínuo de accountability, onde o risco nasce na operação e chega até a governança.
Isso significa que não há PGR eficaz sem visibilidade sobre quem entra, influencia ou opera dentro da estrutura corporativa. E da mesma forma não há TPRM completo sem considerar o ambiente interno onde o terceiro atua.
Como integrar na prática sem burocratizar
Integrar PGR e TPRM não significa criar mais camadas de controle, e sim alinhar processos, dados e critérios de avaliação.
- Centralize informações: o inventário de riscos ocupacionais (do PGR) e o cadastro de fornecedores (do TPRM) devem conversar. Isso permite saber quais terceiros estão expostos a quais riscos e onde estão as maiores vulnerabilidades.
- Padronize critérios de avaliação: use a mesma matriz de probabilidade × impacto tanto para riscos internos quanto externos. Isso facilita a priorização e o reporte à alta gestão.
- Fortaleça a due diligence: o background check, a validação de identidade e a análise de histórico trabalhista dos prestadores devem ser parte do fluxo de onboarding. A legislação brasileira permite (e exige em alguns setores) esse tipo de verificação, como o caso das escolas, pela Lei nº 14.811/2024, e das instituições financeiras.
- Integre o monitoramento contínuo: riscos mudam, se um fornecedor muda de controle societário, sofre sanções ou tem incidentes operacionais, o PGR precisa refletir essas alterações em tempo real.
- Construa uma governança única: o ideal é que a gestão de riscos internos e de terceiros responda a um mesmo comitê de compliance e riscos corporativos.
Essa integração gera ganhos reais de eficiência, pois em vez de relatórios isolados, a empresa passa a enxergar um único mapa de risco que vai desde o chão de fábrica até o fornecedor estratégico.
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Um novo modelo mental de compliance
Conectar o PGR ao TPRM é mais do que integrar planilhas, é adotar um novo modelo mental de governança, baseado na noção de cadeia única de risco. Essa visão permite que a gestão de riscos vá além da conformidade e se torne parte da inteligência estratégica da empresa.
A McKinsey chama isso de risk ownership mindset, que é quando cada colaborador entende que gerenciar riscos não é tarefa exclusiva do compliance, mas um comportamento esperado em todas as áreas. Em outras palavras, o PGR é o início, o TPRM é a extensão, e o compliance é o elo que conecta tudo.
Quando um PGR robusto e um TPRM maduro se unem, a empresa não apenas cumpre normas, ela ganha resiliência, confiança e vantagem competitiva.
Da conformidade à inteligência de risco: o papel da Netrin na integração entre PGR e TPRM
A Netrin é especialista em conectar dados, compliance e tecnologia para tornar a gestão de riscos mais inteligente.
Por meio de plataformas integradas, ela permite cruzar informações de PGR, TPRM e background check em um único ecossistema de governança. Isso significa monitorar riscos internos e de terceiros com base em dados confiáveis, automação de due diligence e alertas em tempo real.
Com soluções de enriquecimento e saneamento de dados cadastrais, análise de red flags e validação de identidade (KYE), a Netrin ajuda empresas a estruturar fluxos de compliance regulatório contínuos, fortalecendo a segurança jurídica e a confiança em toda a cadeia de valor.

