Em um ambiente de negócios cada vez mais interconectado e terceirizado, compreender e dominar o Third-Party Risk Management (TPRM) deixou de ser apenas uma boa prática para se tornar uma exigência crítica para a governança.
Para gestores de compliance e líderes de Governança, Riscos e Compliance, o entendimento profundo de TPRM é uma peça-chave para proteger a empresa contra vulnerabilidades que podem comprometer desde a reputação até a continuidade dos negócios.
O que é TPRM?
TPRM (Third-Party Risk Management), traduzido como Gerenciamento de Riscos de Terceiros, é o processo estruturado de identificar, avaliar, monitorar e mitigar os riscos associados a todas as entidades externas com as quais uma organização se relaciona, incluindo fornecedores, parceiros, prestadores de serviços e intermediários.
Segundo definições amplamente adotadas, o TPRM envolve governança, due diligence, categorização de riscos e monitoramento contínuo ao longo do ciclo de vida da relação com terceiros.
O contexto atual de risco e terceirização
A transformação digital e a globalização das cadeias de valor têm levado empresas de todos os setores a depender mais de terceiros como fornecedores, parceiros estratégicos, prestadores de serviços e consultores especializados.
Essa dependência traz vantagens como agilidade operacional, flexibilidade de escala e acesso a competências especializadas. No entanto, também amplia exponencialmente riscos como vulnerabilidades técnicas, falhas regulatórias e riscos reputacionais que passam a depender de profissionais que estão fora do controle direto da empresa.
Estudos e análises de consultorias globais reforçam essa urgência. Dados da Gartner mostram que 82% dos líderes enxergam riscos de terceiros como sua principal preocupação. Segundo a Whistic, 70% das empresas sofreram alguma violação de segurança em três anos, e 77% desses incidentes começaram em vulnerabilidades de terceiros.
Além disso, uma pesquisa recente da EY mostrou que mais da metade das organizações já considera riscos ambientais, sociais e de governança (ESG) em suas avaliações de terceiros, destacando a necessidade de integrar preocupações de sustentabilidade e responsabilidade corporativa na gestão de fornecedores.
Ao mesmo tempo, consultores de risco alertam que a exposição a terceiros sem supervisão adequada pode ter impactos significativos no desempenho financeiro e reputacional da empresa.
Nesse cenário, o Third-Party Risk Management emerge como a disciplina estratégica que permite às organizações transformar relacionamentos externos em parcerias seguras e conformes.
Quem são os “third parties”?
Segundo a Deloitte, 83% dos líderes de risco afirmam que seu ecossistema de terceiros está “cada vez mais complexo”.
Nesse cenário, um dos equívocos mais comuns é considerar que “terceiros” se limitam a fornecedores tradicionais, como quem entrega insumos ou presta um serviço específico. Na prática, porém, o ecossistema de terceiros é muito mais amplo e diversificado.
Entre os principais tipos de terceiros, destacam-se:
- Fornecedores de produtos e insumos
- Prestadores de serviço
- Empresas de tecnologia e plataformas SaaS
- Parceiros comerciais e distribuidores
- Intermediários financeiros e operacionais
- Transportadoras, operadores logísticos e supply chain
- Terceirizados e trabalhadores contratados
- Clientes com integrações diretas ou trocas de dados
- Canais e representantes comerciais
O mercado de TPRM no Brasil
Na América do Sul, a receita total de TPRM deve evoluir de aproximadamente US$ 443 milhões em 2021 para US$ 783 milhões em 2025 e alcançar US$ 2,44 bilhões em 2033, com CAGR estimado em 15,3%.
O Brasil se destaca como o maior mercado: segundo a Cognitive Market Research, a receita estimada deve atingir US$ 292,3 milhões em 2025 e chegar a US$ 927,9 milhões em 2033, impulsionada por um CAGR de cerca de 15,5%.
Mas, quando analisamos de forma global, o Brasil ainda está em fase inicial de desenvolvimento em TPRM. Estudos mostram que 47% das empresas brasileiras ainda não possuem um programa de TPRM maduro. Entre as empresas que possuem um programa, 62% o implementaram há menos de dois anos, e apenas 13% declaram maturidade avançada (6,4%) ou otimizada (6,6%) nesse setor.
Qual departamento é responsável pelo TPRM?
Historicamente, o TPRM surgiu dentro das áreas de Compliance e Jurídico, como uma extensão dos processos de due diligence. Mas essa disciplia evoluiu para algo muito mais amplo, tornando-se uma disciplina transversal, que conecta gestão de riscos corporativos, segurança da informação, compras e suprimentos, financeiro, proteção de dados, ESG e governança de IA.
Principais riscos relacionados a terceiros
Terceiros podem introduzir diferentes tipos de riscos que podem impactar diretamente as operações, a conformidade e a reputação da organização. Os principais riscos são:
- Risco financeiro: impactos monetários diretos ou indiretos causados por terceiros, como fraudes, multas, inadimplência ou falência.
- Risco de continuidade: possibilidade de interrupção das operações da empresa em decorrência de falhas do terceiro, incluindo rupturas logísticas, indisponibilidade de insumos ou interrupções de serviços essenciais.
- Risco reputacional: danos à imagem e à credibilidade da empresa decorrentes de ações ou falhas cometidas por terceiros, ainda que a responsabilidade direta seja do fornecedor.
- Risco de privacidade: exposição ou tratamento inadequado de dados pessoais e sensíveis, como informações de clientes, dados financeiros e registros operacionais.
- Risco fiscal: riscos associados à gestão fiscal e tributária dos terceiros, que podem gerar passivos ou corresponsabilidade para a empresa contratante.
- Risco regulatório: descumprimento de leis, normas ou regulamentações por parte de terceiros, quando a responsabilidade pode se estender à organização.
- Risco de ESG: riscos relacionados a práticas ambientais, sociais e de governança inadequadas adotadas por terceiros.
- Risco cibernético: ameaças à segurança da informação, incluindo vazamentos de dados, falhas em sistemas de fornecedores de TI, soluções SaaS e integrações inseguras.
Como funciona o ciclo de vida do TPRM?
Um programa de TPRM sólido segue um ciclo de vida estruturado que inclui várias etapas interligadas:
1. Identificação e Inventário de Terceiros
Essa etapa consiste no mapeamento completo de todos os terceiros com os quais a organização mantém relacionamento, incluindo fornecedores, parceiros, prestadores de serviço e subcontratados.
O inventário deve conter informações como:
Tipo de serviço prestado
Dados e sistemas acessados
Dependência operacional
Localização e subcontratações
A partir dessas informações, os terceiros são segmentados conforme risco inerente, criticidade e impacto potencial no negócio, garantindo visibilidade e governança adequadas.
2. Avaliação e Due Diligence
Após a identificação, os terceiros passam por processos de avaliação de risco e due diligence, que podem abranger:
Aspectos financeiros e fiscais
Conformidade legal e regulatória
Práticas de segurança da informação e privacidade
Controles operacionais e continuidade de negócios
Critérios de ESG
Essa etapa permite identificar riscos relevantes antes do início do relacionamento, reduzindo a probabilidade de exposição futura.
3. Classificação e Priorização de Riscos
Com base nos resultados da avaliação, os terceiros são classificados em níveis de risco (baixo, médio ou alto).
Essa priorização permite direcionar esforços e recursos de forma proporcional ao risco, garantindo que fornecedores críticos recebam níveis mais rigorosos de controle, monitoramento e revisão periódica.
4. Contratação e Controle Contratual
A fase contratual é fundamental para formalizar expectativas e responsabilidades.
Os contratos devem incluir cláusulas relacionadas a:
Conformidade regulatória
Proteção de dados e segurança da informação
Requisitos de continuidade de negócio
Auditorias e direito de fiscalização
Obrigações de ESG
Penalidades e planos de resposta a incidentes
Um controle contratual eficaz reduz ambiguidades e fortalece a capacidade de resposta da organização.
5. Monitoramento Contínuo e Gestão do Desempenho
Após a contratação, é necessário monitorar regularmente o desempenho e o perfil de risco dos terceiros, por meio de reavaliações periódicas automatizadas, indicadores de desempenho e de risco, acompanhamento de mudanças regulatórias ou operacionais e alertas de incidentes e eventos externos. O caminho ideal é automatizar esse monitoramento com uma solução como a Netrin.
6. Remediação e Resposta a Incidentes
Quando falhas, não conformidades ou incidentes são identificados, devem existir processos claros para definição de planos de ação corretiva, prazos e responsáveis, acompanhamento da remediação e comunicação com áreas internas, clientes e reguladores, quando aplicável.
Essa etapa garante que os riscos sejam efetivamente tratados e que lições aprendidas sejam incorporadas ao programa de TPRM.
Leia também: TPRM na prática: como as empresas estão estruturando programas de gestão de risco de terceiros para 2026
O TPRM deve estar alinhado com frameworks de risco mais amplos, como a Governança, Riscos e Compliance. Uma abordagem integrada facilita a implementação de políticas, auditorias, indicadores e controles que garantem consistência e transparência em toda a organização.
Relação do TPRM com leis e regulações
O Third-Party Risk Management é um componente essencial para o cumprimento de leis e normas regulatórias, garantindo que as atividades realizadas por terceiros estejam em conformidade com requisitos legais e padrões de governança.
À medida que organizações dependem cada vez mais de fornecedores, parceiros e soluções terceirizadas, torna-se necessário assegurar que esses terceiros atuem de maneira segura, ética e conforme a legislação aplicável. O TPRM oferece mecanismos para identificação, avaliação e mitigação de riscos em todos os níveis do relacionamento terceirizado.
Alguns setores onde o TPRM é exigido ou fortemente recomendado são:
- Financeiro: bancos, fintechs e corretoras precisam gerenciar riscos de terceiros relacionados a segurança da informação, fraude, compliance regulatório e continuidade de serviços críticos.
- Saúde: hospitais, clínicas e laboratórios devem proteger dados sensíveis de pacientes, garantir conformidade com normas sanitárias e controlar fornecedores de equipamentos, sistemas de TI e serviços terceirizados.
- Seguros: companhias de seguros precisam monitorar corretores, prestadores de serviços médicos e fornecedores de TI para assegurar que práticas de compliance e segurança estejam alinhadas com regulamentações.
- Educacional: a Lei nº 14.811/2024 estabelece exigências rigorosas para a contratação e manutenção de colaboradores no setor educacional. A legislação estabelece que instituições que desenvolvam atividades com crianças e adolescentes devem exigir e manter certidões de antecedentes criminais de todos os seus colaboradores, demandando um processo robusto de background check para mitigar riscos de contratação.
Além disso, no contexto da LGPD e de legislações internacionais similares (como GDPR), a responsabilidade pelo tratamento de dados pessoais não se limita ao operador direto. A organização contratante deve garantir que seus terceiros adotem medidas adequadas de segurança, confidencialidade e governança, podendo ser responsabilizada em caso de incidentes ou uso indevido de dados.
Tecnologia como facilitadora do TPRM
A tecnologia tem se tornado um pilar essencial para programas de Third-Party Risk Management, permitindo que organizações gerenciem riscos de terceiros de forma mais eficiente, precisa e escalável.
Com o aumento da complexidade dos fornecedores, da digitalização dos processos e da pressão regulatória, ferramentas tecnológicas ajudam a automatizar tarefas repetitivas, centralizar informações e oferecer insights baseados em dados.
Automação de processos
Muitas atividades do TPRM envolvem coleta e análise de dados que, se realizadas manualmente, podem ser lentas, suscetíveis a erros e difíceis de escalar. A automação facilita a coleta de dados de fornecedores, por exemplo, ao permitir que questionários, documentos fiscais, relatórios de auditoria e certificações sejam integrados automaticamente a sistemas centrais.
Além disso, processos de validação documental, como verificação de certificados, registros legais e histórico de incidentes, podem ocorrer sem intervenção manual.
Fluxos de aprovação e monitoramento contínuo também são soluções essenciais nesse contexto para garantir que as informações de terceiros estejam sempre atualizadas. É possível, por exemplo, configurar alertas automáticos quando houver alterações no perfil do fornecedor.
Inteligência artificial e análise de dados
A Inteligência Artificial e o aprendizado de máquina podem transformar a forma como riscos de terceiros são detectados e gerenciados.
Algoritmos podem identificar comportamentos incomuns de fornecedores, alertando para potenciais fraudes, não conformidades ou falhas operacionais, e modelos preditivos podem antecipar riscos financeiros, de continuidade ou cibernéticos com base em dados históricos e indicadores externos.
Além disso, a IA pode integrar múltiplas fontes de dados para gerar uma visão unificada do risco do terceiro, atribuindo um score de risco de maneira inteligente.
Plataformas digitais integradas
Plataformas digitais oferecem funcionalidades que elevam a governança e escalabilidade do programa de TPRM. Alguns recursos incluem centralização de informações de terceiros, classificação e scoring de risco automatizados, fluxos de trabalho estruturados, integração de múltiplas fontes de dados, alertas inteligentes, etc.
TPRM como pilar do Compliance moderno
Em um mundo caracterizado por interdependências complexas e riscos multifacetados, o Third-Party Risk Management não pode ser tratado como um tema periférico.
Ele é um pilar essencial da governança corporativa e do compliance, pois garante que relações com fornecedores e parceiros agreguem valor sem comprometer a segurança, a conformidade ou a reputação da organização.
Implementar um programa de TPRM bem estruturado, com due diligence robusta, monitoramento contínuo baseado em dados e integração com frameworks de risco amplos é uma maneira eficaz de transformar vulnerabilidades em riscos gerenciados.
Ao fazer isso, as empresas não apenas reduzem a probabilidade de eventos adversos, mas também melhoram sua resiliência organizacional e sua capacidade de inovar com confiança.
Leia também: PGR e TPRM: como conectar compliance regulatório e riscos de terceiros em um sistema de governança
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