A discussão sobre prevenção à lavagem de dinheiro (PLD) deixou há muito tempo de ser uma responsabilidade restrita ao setor financeiro. Em um cenário global em que a ONU estima que entre US$ 800 bilhões e US$ 2 trilhões sejam lavados anualmente, a lavagem de dinheiro tornou-se um risco para qualquer organização que opere com cadeias complexas, parceiros internacionais ou modelos digitais.
Hoje, é impossível falar em PLD sem falar em gestão de risco. Isso é reforçado pelo próprio FATF/GAFI, que coloca a abordagem baseada em risco como a espinha dorsal de qualquer estrutura de prevenção. A recomendação é direta: controles devem ser proporcionais ao risco real de exposição e não ao tamanho da empresa ou ao seu setor específico.
Essa mudança exige uma transformação profunda no modo como compliance enxerga a cadeia de valor. Já não basta conhecer o cliente (KYC), é preciso conhecer fornecedores, distribuidores, representantes, parceiros estratégicos e colaboradores que atuam em funções sensíveis.
O princípio do conheça o seu parceiro deixa de ser uma boa prática para se tornar um elemento-chave na proteção contra organizações criminosas que utilizam terceiros como porta de entrada para lavar dinheiro.
Gestão de risco e PLD: o que muda na prática
A abordagem baseada em risco começa pelo entendimento de que nem todos os parceiros oferecem a mesma exposição. Parceiros que atuam em jurisdições identificadas pelo FATF como de alto risco ou sob monitoramento naturalmente demandam controles mais rigorosos.
O mesmo vale para setores que historicamente servem como veículos de ocultação de recursos, como mercados de luxo, intermediação financeira informal, casinos e, mais recentemente, casas de apostas online, cuja regulamentação brasileira (Lei nº 14.790/2023 e Portaria SPA/MF nº 1.143/2024) reforça a necessidade de programas robustos de integridade, PLD/FT e governança.
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Além disso, estruturas societárias opacas, ausência de transparência, uso de offshores, operações incompatíveis com o porte da empresa ou histórico de sanções e notícias negativas são elementos que elevam o risco e exigem uma due diligence mais profunda.
E, como o FATF destaca em suas diretrizes de Avaliação Nacional de Riscos, essa avaliação precisa ser sistematizada, documentada e revisada de forma contínua.
Em outras palavras, a gestão de risco passa a ser o eixo que direciona o nível de KYC, KYE e due diligence, desde processos simplificados até investigações reforçadas, quando o risco é elevado.
KYC, KYE e due diligence: prevenção e inteligência de risco
A tríade formada por KYC, KYE e due diligence sustenta a estrutura de PLD. Embora muitas empresas apliquem esses controles no onboarding, gestores de compliance experientes sabem que isso não é suficiente.
O KYC exige muito mais do que verificar documentos: implica compreender o perfil do parceiro, a lógica econômica da relação e a compatibilidade entre origem de recursos, histórico operacional e expectativa de transações.
Já o KYE complementa o processo, especialmente em áreas como operações financeiras, compras, auditoria interna, jurídico, gestão de pagamentos e ambientes regulados. O próprio Guia de PLD/FTP da ANBIMA enfatiza que colaboradores e prestadores críticos precisam estar dentro do escopo de governança de PLD.
A due diligence de terceiros, por sua vez, consolida a visão de risco ao combinar dados cadastrais, societários, fiscais, regulatórios, reputacionais e jurídicos. Quando aplicada de forma contínua, não apenas no onboarding, ela reduz pontos cegos e aumenta a capacidade de interceptar comportamentos suspeitos antes que se transformem em incidentes.
Como lidar, de forma prática, com parceiros de alto risco
Parceiros classificados como alto risco não devem ser tratados como um “problema”, mas como um ponto de atenção estratégica. Muitas vezes, eles são essenciais à operação. Isso significa que o desafio não é eliminá-los, mas controlá-los de forma mais rigorosa e inteligente.
O primeiro passo é reconhecer que, se o risco é maior, os controles também precisam ser. Para esses parceiros, é natural exigir documentação adicional, revisão aprofundada da estrutura societária, validação do beneficiário final e consultas frequentes a listas de sanções, PEP e mídias negativas.
Mas a gestão de risco não termina no onboarding. Ela depende de um monitoramento contínuo, capaz de capturar mudanças na jurisdição, no padrão de transações, no setor de atuação ou em acontecimentos externos relevantes como uma investigação criminal, sanção internacional, escândalo setorial ou uma incorporação societária inesperada.
Esse olhar contínuo é essencial porque a dinâmica da lavagem de dinheiro muda rapidamente. Relatórios da ONU sobre o crescimento das fraudes digitais mostram que criminosos estão utilizando automação, tecnologia e inteligência artificial para criar operações de alto volume com baixa detecção.
Portanto, um parceiro que hoje parece estável pode, amanhã, estar envolvido em um padrão transacional completamente incompatível com seu porte, e o compliance só perceberá isso se estiver monitorando o risco de forma ativa.
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Por que tecnologia é indispensável para PLD?
A grande virada na área de PLD é que a tecnologia deixou de ser acessória e passou a ser um elemento que estrutura a operação.
O uso de planilhas manuais, bases desconectadas e verificações pontuais simplesmente não acompanha a velocidade nem a sofisticação dos crimes financeiros. Uma Pesquisa Global sobre Fraudes da PwC mostra que, embora o risco de fraude e lavagem esteja crescendo, apenas 26% das empresas no mundo utilizam analytics avançados para detectar padrões incomuns em compras, um dos principais vetores de crime econômico.
No Brasil, o número sobe para 38%, mas ainda fica distante do esperado. Isso revela um descompasso perigoso: enquanto fraudadores e organizações criminosas avançam no uso de automação, deepfakes, identidade sintética e volumetria de dados, muitas empresas ainda operam estruturas de compliance baseadas em análise manual e pouco integrada.
É por isso que plataformas especializadas de antifraude, KYC, due diligence e PLD/FT se tornaram essenciais. Elas permitem consolidar dados de várias fontes, conectar fatos dispersos, monitorar eventos em tempo real e aplicar modelos de classificação de risco consistentes, auditáveis e alinhados às recomendações do FATF e às exigências regulatórias nacionais.
No fim, a tecnologia é um fator estratégico para o profissional de compliance porque amplia a capacidade de enxergar, investigar, priorizar e agir de forma estratégica.
Conformidade, reputação e continuidade: O que está em jogo quando o PLD é ignorado
Os riscos de negligenciar PLD vão muito além da multa. Isso porque empresas que mantêm relacionamentos com parceiros de alto risco sem controles adequados podem ser expostas a investigações complexas, perder relacionamento com instituições financeiras, ser bloqueadas de operar em determinados mercados e sofrer danos reputacionais profundos.
Consultorias como EY e Deloitte vêm alertando para o fato de que PLD/FT deixou de ser um tema regulatório e se tornou um pilar de estabilidade, continuidade de negócios e governança.
Em mercados cada vez mais globalizados e interconectados, empresas capazes de demonstrar controle total sobre sua cadeia ampliam sua capacidade competitiva e reduzem a probabilidade de interrupções, sanções ou escândalos.
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Como a Netrin ajuda empresas a fortalecer a gestão de risco em PLD
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