Por muito tempo, planilhas e e-mails foram as principais ferramentas de quem gerenciava fornecedores. Eram simples, familiares e aparentemente suficientes, mas o contexto mudou.
Com as cadeias de suprimentos operando de forma global, a exposição a riscos ficou muito maior, o que intensificou as exigências por transparência, governança e compliance.
É por isso que nos dias de hoje, permanecer em um modelo manual para gerenciar os riscos de terceiros pode até ser possível, mas é altamente arriscado.
É nesse ponto que entra o TPRM (Third-Party Risk Management), ou Gestão de Riscos de Terceiros, um modelo automatizado, contínuo e inteligente de controle e monitoramento de fornecedores.
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A nova realidade da gestão de fornecedores
O mundo corporativo vive uma nova era de interdependência; isso significa que uma empresa já não é apenas o que produz, mas também aquilo que os seus parceiros representam.
O relatório global da Prevalent (2024) mostra que 61% das empresas sofreram algum incidente de segurança causado por terceiros no último ano.
Outro dado alarmante vem da Hyperproof: 62% das organizações enfrentaram interrupções na cadeia de fornecimento devido a falhas de fornecedores.
Apesar disso, milhares de empresas ainda dependem de planilhas para monitorar riscos.
O problema é que planilhas não têm memória, contexto ou alarmes. Elas não avisam quando um fornecedor muda de sócios, entra em sanções ou é citado em um processo trabalhista.
Por que a planilha não acompanha o ritmo do risco?
Com planilhas, a visibilidade é fragmentada e cada área mantém seu próprio controle: compras, jurídico, compliance, e as informações raramente se integram. O resultado é uma visão parcial e reativa, pois só se age quando o problema já aconteceu.
A Panorays aponta que uma avaliação manual de segurança de fornecedor pode levar até nove semanas e, nesse intervalo, muita coisa pode mudar.
Já os modelos automatizados de TPRM funcionam como um painel de controle inteligente: consolidam informações, cruzam dados e emitem alertas, reduzindo o tempo de resposta. A Everstream Analytics mostra que empresas que adotam automação na gestão de risco de terceiros conseguem reduzir em até 30% a frequência e severidade de interrupções.
O que é, afinal, um modelo de TPRM automatizado
O TPRM é um sistema de gestão contínua e automatizada de riscos de terceiros. Ele integra dados e processos para oferecer uma visão única da cadeia de fornecimento, com monitoramento constante e alertas em tempo real.
No lugar de planilhas estáticas, o TPRM se baseia em fluxos automatizados, desde o onboarding e a due diligence de fornecedores até o monitoramento contínuo de riscos.
Isso significa uma grande mudança na rotina do gestor: ele deixa de “preencher colunas” para se tornar um analista estratégico, capaz de antecipar problemas e direcionar ações com base em dados confiáveis.
A FINRA reforça essa tendência em seu relatório de supervisão: a gestão contínua de fornecedores e a integração com governança e compliance já são consideradas boas práticas regulatórias.
Leia também: Como garantir segurança na contratação de fornecedores com análise jurídica e monitoramento contínuo
Da planilha à automação: um salto de maturidade na gestão de terceiros
A migração de uma gestão de riscos feita em planilhas para um modelo de TPRM exige do gestor uma mudança de posicionamento dentro do seu próprio escopo de trabalho. Afinal de contas, com a planilha o gestor registra e reage, já na automação, ele antecipa e decide.
Ou seja, ele deixa de lidar com funções operacionais e passa a exercer um papel muito mais estratégico.
A diferença está em como os dados se comportam: na planilha eles são estáticos; na automação, são vivos, conectados e auditáveis. Cada atualização, alerta ou mudança de status do fornecedor é registrada e transformada em insight.
Dados enriquecidos e saneados de forma contínua
Na planilha, manter dados atualizados é um desafio constante: campos vazios, CPFs desatualizados, fornecedores duplicados. Cada atualização exige horas de conferência manual.
Com a automação, o saneamento e o enriquecimento de dados cadastrais tornam-se permanentes. O sistema identifica duplicidades, corrige informações, valida CNPJs e adiciona automaticamente novos dados públicos e privados, como certidões, histórico de compliance e situação fiscal.
Além de agilizar processos, isso garante conformidade com a LGPD. O enriquecimento de dados faz com que cada atualização seja rastreável e respaldada por base legal, o que elimina o risco de uso indevido de dados pessoais.
Due diligence automatizada: o risco em tempo real
A due diligence tradicional é feita por rodadas: coleta-se informação, analisa-se o fornecedor, elabora-se um relatório e, no próximo ciclo, tudo começa de novo.
No modelo automatizado, a due diligence se torna contínua e responsiva. O sistema consolida dados trabalhistas, ambientais, reputacionais e financeiros em uma matriz de risco dinâmica, que se atualiza automaticamente conforme novas informações surgem.
Por exemplo: se um fornecedor passa a constar em uma lista de sanções ambientais ou tem sócios classificados como PEP (Pessoa Politicamente Exposta), o alerta é instantâneo. Isso permite decisões baseadas em fatos, não em relatórios defasados, o que reduz drasticamente o risco de surpresas.
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Monitoramento e workflows automáticos para o fim do risco invisível
Enquanto na planilha o gestor precisa lembrar de “revisar” cada fornecedor, o TPRM automatizado nunca para. Workflows digitais conduzem o ciclo completo: onboarding, homologação, due diligence, acompanhamento e offboarding.
A cada atualização pública, mudança de status societário ou notícia negativa, o sistema emite red flags de risco, priorizando as situações que exigem intervenção humana.
Com isso, o gestor de riscos ganha tempo para atuar estrategicamente em vez de gastar horas consolidando dados dispersos.
Segundo a EY, empresas que automatizam seus programas de TPRM reduzem em até 40% o tempo gasto com análise de fornecedores e aumentam em 60% a visibilidade sobre riscos operacionais.
Governança, ESG e compliance integrados
O último salto da automação é estratégico e observado a longo prazo. Enquanto a planilha gera relatórios, o TPRM automatizado gera inteligência de governança.
O sistema conecta dados de risco, compliance e ESG em um único painel, facilitando auditorias, certificações e relatórios regulatórios. O gestor passa a visualizar não só quem é o fornecedor, mas como ele impacta a cadeia de valor, o desempenho ESG e a reputação da marca.
Essa integração consolida o TPRM como pilar do GRC corporativo (Governança, Risco e Compliance) e torna possíveis decisões mais alinhadas à ética, sustentabilidade e estratégia.
A automação é poderosa, mas não faz milagres sozinha. A verdadeira transformação ocorre quando dados confiáveis, processos claros e governança ativa se encontram.
Migrar da planilha para o TPRM automatizado é mais do que adotar uma nova ferramenta, é mudar a forma de enxergar fornecedores: não como meros prestadores de serviço, mas como extensões do próprio negócio.

