Em meio a discussões sobre a regulamentação das apostas esportivas no Brasil o segmento está cada vez mais preocupado com casos de manipulação de resultados que estão virando notícia, especialmente pelo que foi divulgado na investigação da operação Penalidade Máxima realizada pelo Ministério Público de Goiás.
Esta operação já revelou o envolvimento de atletas e pessoas relacionadas na tentativa ou na efetiva manipulação de resultados em partidas do campeonato brasileiro e campeonatos regionais ao menos nos estaduais de Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Ao que tudo indica o ministério público e a polícia federal tem tido êxito em investigar este tipo de conduta e agir rapidamente para identificar os responsáveis e aprontar providências iniciais como busca e apreensão, e prisões temporárias. Também os clubes têm tido reações rápidas em afastar os profissionais envolvidos e os tribunais esportivos em suspendê-los ou bani-los do esporte.
A grande questão que traz preocupações é que estas ocorrências nem de longe refletem o possível universo de manipulações ou fraudes no segmento. Um estudo recente da Ernst & Young (EY), encomendado pela CBF aponta que existem mais de 360 mil atletas no mercado do futebol brasileiro entre profissionais e amadores, entre registrados e em atividade ou não. Deste total cerca de 88 mil são profissionais e 11,6 mil tiveram contratos ativos na última temporada.
Outro dado demonstrado muito relevante é que a maioria absoluta, 88%, tem salários inferiores a R$ 5.000,00. Nesta conjuntura e com o potencial financeiro gerado por apostas esportivas não é difícil imaginar o quão suscetível é este universo a abordagem de fraudadores onde o potencial ganho é imensamente maior do que os vencimentos de um atleta.
Enquanto a regulamentação ainda está em discussão, o ecossistema de apostas esportivas está cada vez mais preocupado com este tipo de fraude porque é também vítima desta manipulação, então fica a pergunta: como se proteger? Bom, diversos mecanismos têm sido adotados pelas casas de apostas especialmente em analisar movimentos de apostadores fora do padrão ou contra estatísticas.
Mesmo assim, isto não basta para avaliar casos mais isolados e menos perceptíveis. Talvez um bom exemplo seja olhar para o que outros países adotaram como medidas e devem estar presente na regulamentação brasileira. É o caso, por exemplo do Reino Unido, onde há grande tradição de apostas e a legislação é bastante rígida e proíbe atletas profissionais, dirigentes, árbitros e outros a participarem de apostas.
Neste mesmo caminho e alinhada as boas práticas de integridade nas apostas esportivas, a ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias) que reúne vários dos principais players deste segmento lançou orientações para seus afiliados com 10 medidas que visam reforçar as boas práticas já adotadas pelo setor para evitar novas ações de manipulação, entre elas destacam-se algumas em que o suporte de tecnologia adequada pode ser utilizado:
- Priorizar a criação e o desenvolvimento de parcerias com terceiros atuantes na aplicação e no desenvolvimento da integridade no esporte;
- Adotar procedimentos transparentes e previamente estabelecidos para identificação, investigação e envio às autoridades dos relatórios sobre situações suspeitas de manipulação de resultados e de apostas ilegais;
- Estar comprometido em comunicar aos entes competentes sobre as atividades não usuais e suspeitas de fraude ou lavagem de capitais ocorridas em plataformas, sites e/ou aplicativos do operador;
- Controlar a disponibilização dos produtos de apostas esportivas com base na avaliação de riscos;
- Estabelecer parcerias estratégicas com empresas reconhecidas na prática de monitoramento da integridade esportiva;
- Não disponibilizar o serviço de apostas esportivas para dirigentes desportivos, os técnicos desportivos, os treinadores, os praticantes desportivos, profissionais e amadores, os juízes, os árbitros, os empresários desportivos e os responsáveis das entidades organizadoras das competições e provas desportivas e das competições e corridas de cavalos objeto de aposta, quando, direta ou indiretamente, tenham ou possam ter qualquer intervenção no resultado dos eventos;
- Estar comprometido na proteção de menores de idade e pessoas vulneráveis – como os suscetíveis a vícios – visando à indisponibilidade do serviço de apostas e/ou de ações de marketing para esse público.
Um aspecto detectado nas ocorrências de tentativa ou efetiva manipulação de resultados é que o movimento consiste no envolvimento de pessoas relacionadas aos atletas onde determinada ação na partida pode beneficiar o apostador com ganhos expressivos, por exemplo, com o cometimento de um pênalti ou a aplicação de um cartão amarelo.
Pensando nisso e como forma de apoiar o ecossistema a melhorar ainda mais a análise de apostas suspeitas, lançamos durante o último evento Brazilian iGaming Summit | BiS SiGMA Américas 2023, que ocorreu entre os dias 15 e 17 de junho, um novo produto para identificar apostadores suspeitos.
Trata-se de uma base de dados contendo mais de 30 mil atletas, dirigentes e árbitros, ativos e inativos, e mais de 100 mil pessoas relacionadas a estes, entre parentes de 1º. e 2º. Grau ou com relação societária.
A base de dados concentra-se em profissionais do esporte ativos e inativos dos principais campeonatos nacionais e regionais do futebol nacional em sua primeira versão, mas já há previsão de incluir os demais campeonatos locais em todas as séries, além de também incluir demais esportes como Volei, Basquete, Futsal, entre outros, sendo a única solução deste tipo atualmente no mercado brasileiro.
O produto está disponível para consumo através de consultas via API (Application Programming Interface) onde em cada operação de onboarding de apostadores, a casa de aposta pode verificar se este é um profissional envolvido com o esporte ou uma pessoa relacionada a um profissional, além de poder obter as informações sobre o clube, campeonato e ano de inscrição.
Desde o seu lançamento, já na primeira semana de aplicação em alguns de seus clientes, identificamos mais de 5.000 apostas realizadas por pessoas relacionadas a profissionais do esporte e cerca de 400 por profissionais ativos ou inativos. Esta informação juntamente com estatísticas e volume apostado, pode aumentar a eficiência na detecção de fraudes ou até mesmo servir como barreira de entrada para este tipo de apostador.
Além desta avaliação do relacionamento do apostador com os profissionais do esporte e alinhado ao que a ANJL publica como medidas para manter a integridade nas apostas, outros procedimentos podem e devem ser adotados para mitigar potenciais riscos de fraude, tais como:
- A checagem da identidade do apostador através da consulta de seu CPF para detectar menores de idade e pessoas com óbito registrado;
- A verificação de dados de KYC para detectar pessoas cujo antecedentes podem indicar um fraudador em potencial;
- A checagem de informações de dados bancários e chaves PIX para garantir que depósitos e pagamentos sejam realizados em favor do titular da conta vinculado ao cadastro na casa de aposta, evitando assim o uso de contas de “laranjas”;
- A coleta de documentos de identidade e prova de vida que garantem que é o titular da conta quem opera a aposta evitando por exemplo, a ação de menores ou ainda dos conhecidos “brokers”.
A Netrin possui uma suíte completa de APIs e plataforma de acompanhamento de potenciais riscos e irregularidades que vem apoiando empresas do setor na mitigação destas ocorrências. Segundo Elvis Lourenço, Head de Produto da Aposta Ganha, uma das empresas membro da ANJL, o uso das tecnologias da Netrin vem os apoiando em manter controle sobre potenciais riscos e irregularidades detectadas com apostadores. Ele ainda reforça que o uso de dados de KYC, especialmente de pessoas relacionadas ao esporte é realmente um diferencial para aumentar a segurança e integridade do negócio. Para saber mais sobre as soluções e APIs da Netrin preencha o formulário aqui e um consultor irá apresentar os detalhes completos.
Por fim e diante das expectativas em relação à regulamentação das apostas esportivas no Brasil está claro que existem necessidades que não podem esperar as regras governamentais, especialmente pela própria saúde do ecossistema, a fim de se evitar que ainda mais prejuízos sejam gerados para clubes, torcedores e sociedade e, prioritariamente, pela degradação potencial da tão esfuziante paixão que os brasileiros têm por este esporte.